Opinion
Portugal não está atrasado no que toca à cibersegurança. Nos últimos anos, o setor tem mostrado evolução e maior maturidade em várias áreas. Ainda assim, há um traço comum que atravessa diferentes organizações e setores: a tendência para confundir segurança com conformidade
Por Ricardo Rodrigues, CEO da Balwurk . 17/11/2025
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Existem, claro, exceções a esta regra, mas para muitas empresas as auditorias, os relatórios e as certificações continuam a ser vistos como um ponto de chegada, quando deviam representar apenas o início de um processo contínuo. O que deveria ser um percurso vivo e evolutivo acaba, demasiadas vezes, por se tornar num exercício formal que termina quando o relatório é entregue, ou quando algumas dos ajustes são feitos. Isto não acontece por falta de competência técnica. O país conta com profissionais qualificados e equipas sólidas, capazes de atuar em contextos complexos. O verdadeiro desafio é cultural. A segurança tende a ser ativada de forma reativa, após um incidente, uma inspeção ou uma exigência regulatória, em vez de estar integrada nas decisões estratégicas, como parte do dia a dia das operações. Aos poucos estamos a mudar, mas ainda a passo lento. Os testes de intrusão, ou Pentests, ilustram bem esta realidade. Estes testes são cruciais para uma boa estratégia de segurança e de continuidade do negócio, mas quando são realizados apenas para cumprir um requisito, perdem uma parte significativa do seu valor. Um teste deste tipo é muito mais do que um exercício técnico. É uma oportunidade para medir a eficácia dos controlos existentes, antecipar vulnerabilidades e transformar resultados em ações concretas. Um pentest isolado cumpre uma norma, mas um programa recorrente e bem desenhado reforça a maturidade e a resiliência. Outro ponto frequente é a dependência excessiva da tecnologia. As ferramentas são essenciais, mas não substituem o pensamento crítico nem a capacidade de análise das equipas. Este tópico é especialmente relevante numa altura em que a IA domina as conversas. Há empresas que investem em soluções avançadas de deteção e resposta, mas que não têm processos claros para interpretar alertas ou reagir com rapidez. É importante percebermos que segurança não se garante apenas com tecnologia, constrói-se com pessoas, método e continuidade. Se remetermos esta conversa para o âmbito das pequenas e médias empresas entramos num desafio particular. Por falta de recursos, recorrem muitas vezes a soluções pensadas para uso mais residencial, acreditando que são suficientes. Mas hoje, mais do que nunca, é importante termos presente que a superfície de ataque de uma organização muda constantemente: novas aplicações, acessos remotos, fornecedores externos. É um cenário que exige mais atenção e práticas proporcionais ao risco real. Ainda assim, há sinais claros de progresso. Já se vê um número crescente de empresas que incluem a segurança no desenvolvimento de software, que testam de forma periódica e que investem na formação das suas equipas. Diretivas como a NIS2, o DORA e o CRA, têm contribuído para acelerar esta mudança, ajudando as organizações a compreender que a conformidade é apenas uma parte do caminho, não o destino final. A maturidade constrói-se com continuidade. Testar, corrigir, validar e repetir é o ciclo que transforma a segurança num reflexo natural da cultura organizacional. E é isso que, passo a passo, está a começar a acontecer: a segurança a deixar de ser uma obrigação e a tornar-se um hábito. |