Analysis
A VisionWare assinalou duas décadas com um evento no SUD Lisboa, onde reuniu profissionais do setor e especialistas para discutir os principais desafios da cibersegurança e refletir sobre o futuro do ciberespaço
Por Inês Garcia Martins . 12/09/2025
|
A crescente centralidade do ciberespaço e a ameaça de ataques digitais sofisticados marcaram o debate no evento que assinalou os vinte anos da VisionWare, no SUD Lisboa, onde Paulo Portas, Ex-Ministro dos Negócios Estrangeiros, Ex-Vice-Primeiro-Ministro e Ex-Ministro da Defesa, defendeu que a União Europeia deve investir em capacidades digitais capazes de proteger democracias, economias e sociedades abertas. Com um keynote sobre “Ameaças Híbridas, ciberespaço e o papel da Europa na nova era da ciberdefesa”, Paulo Portas arrancou o evento numa data que permanece como símbolo mundial de um ponto de viragem na forma como conhecemos o mundo: o 11 de setembro. A era digital, de acordo com o antigo governante, trouxe riscos e oportunidades inéditas, com impacto particular nas democracias. “Os sistemas digitais são consequência direta da digitalização da sociedade, um dos maiores avanços tecnológicos do mundo moderno”, afirmou, acrescentando que esses riscos “são muito mais perigosos nas sociedades abertas do que nas autocráticas”. A velocidade da inovação “é sempre superior à velocidade da regulação”, diz, o que deixa a Europa numa posição delicada porque “tem tendência para regular demais e terá de arrepelar caminho para a frente. Não é possível parar a digitalização”. O Ex-Ministro da Defesa alertou para a centralidade crescente do ciberespaço nas ameaças globais, ao apontar que “na guerra clássica sei quem é o inimigo, na guerra ciber demoro meses a saber quem é” e que muitas vezes o objetivo vai além do fator económico para “provocar o caos e ganhar atenção mediática”. Para o ex-ministro, a ciberdefesa deve ser assumida como pilar estratégico das democracias, ao ponto de defender que “na NATO teremos de investir num quarto ramo das forças: um ramo digital”, já que ataques ciber “podem destruir a nossa vida num segundo – algo que nem mesmo uma bomba nuclear conseguiu”. Ameaças híbridas e desinformação no centro do debateNuma entrevista durante o evento, António Gameiro Marques, Ex-Diretor Geral do Gabinete Nacional de Cibersegurança (GNS) e do Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS), sublinhou que a Europa “não está a dormir” e que mecanismos como o EU-Cyclone têm sido ativados em resposta a grandes incidentes. Ainda assim, considerou fundamental reforçar a cooperação entre defesa, inteligência e setor privado, bem como investir de forma muito mais robusta em inteligência artificial e cibersegurança. “Não podemos ficar satisfeitos com mil milhão de euros por ano, devíamos multiplicar esse valor por 20 se queremos proteger a democracia, a liberdade e a economia”, afirmou. Para o responsável, a soberania digital tem também uma dimensão ética, sendo que “a tecnologia não pode ser cúmplice da erosão democrática. Tem de servir a verdade, a participação e uma sociedade mais justa, informada e livre”. Paralelamente, Dan Cimpea, Diretor Geral do Gabinete Nacional de Cibersegurança da Roménia, lembrou que a desinformação é também um problema de cibersegurança, já que “compromete a integridade e a disponibilidade da informação” e pode “mudar o destino de um país numa eleição”. Recordou o caso das presidenciais romenas, em 2024, em que identificaram 80 mil máquinas em operações coordenadas e manipulação massiva de redes sociais – sobretudo via TikTok – ao ponto de “um candidato ter mais visualizações do que a Taylor Swift ou a Rihanna em apenas seis dias”, situação que levou mesmo o Tribunal Constitucional a anular o ato eleitoral pela primeira vez. A aposta na inteligência e inovaçãoEm 2005, num mundo certamente menos digital, a empresa portuguesa VisionWare dava os primeiros passos; hoje, credenciada pela NATO, acompanha de perto um cenário em que as ameaças híbridas e a desinformação deixaram de ser fenómenos emergentes para se tornarem realidades consolidadas. “Não temos um ciberataque sem ter de perceber qual é a morfologia do ataque, quem é o grupo, qual é o consórcio empresarial que está por trás do grupo criminoso, como é que ele funciona, qual é o deepfake”, afirmou Bruno Castro. Para responder a essa complexidade, a VisionWare criou uma unidade de intelligence que “se dedica exclusivamente a perceber o que é real, o que é falso”. Uma frente de combate que, sublinhou, é já “crítica para nós”. Ao olhar para o futuro, garante que aquela ousadia inicial permanece inalterada no espírito da equipa: “estamos constantemente a procurar coisas novas, inovadoras e a procurar o que é que está a acontecer no ciberespaço”. Essa inquietação, que rejeita “zonas de conforto” e se traduz numa “área de inovação ultra-agressiva”, continua a ser, segundo o responsável, a força que guia a empresa na resposta aos desafios cada vez mais complexos do ciberespaço. |