Opinion

Consolidar para detetar e reagir mais rápido: uma mudança de paradigma nas operações de segurança

Num mundo digital onde o tempo é a moeda mais valiosa, a capacidade de uma organização detetar e responder a ameaças em tempo útil tornou-se não apenas uma vantagem competitiva, mas uma necessidade vital

Por David Antunes, Solutions Account Manager da Fortinet . 04/07/2025

Consolidar para detetar e reagir mais rápido: uma mudança de paradigma nas operações de segurança

No entanto, paradoxalmente, a infraestrutura de segurança das empresas tem evoluído para modelos cada vez mais fragmentados, em que múltiplas ferramentas operam de forma isolada, criando complexidade, redundância e ineficiência. Este contexto tornou evidente que o excesso de soluções não é sinónimo de maior proteção. Pelo contrário, é a própria fragmentação que está a comprometer a agilidade e eficácia das equipas de operações de segurança (SecOps).

A quantidade de alertas que uma equipa de SecOps recebe diariamente é esmagadora. Muitos são falsos positivos, outros carecem de contexto e priorização. O resultado é um ambiente de "fadiga de alerta", onde incidentes críticos passam despercebidos ou não são tratados atempadamente. E quanto maior o número de tecnologias desconectadas, maior a dificuldade em fazer a correlação entre eventos, identificar padrões de ataque e responder de forma coordenada. Este cenário tem vindo a expor um paradoxo perigoso: quanto mais se investe em soluções dispersas, mais lento e ineficiente se torna o processo de defesa.

A resposta a este desafio passa por uma mudança estrutural: a consolidação. Não se trata apenas de reduzir o número de fornecedores ou ferramentas, mas de criar uma malha de segurança coesa, inteligente e integrada. Uma arquitetura onde a informação flui de forma transversal, suportada por mecanismos de automação e inteligência artificial, capaz de transformar um conjunto de dados díspares numa visão acionável e priorizada. Quando bem aplicada, esta abordagem permite que as equipas passem de uma postura reativa e sobrecarregada para uma atuação proativa, eficiente e centrada no risco real.

A automação e a inteligência artificial são catalisadores decisivos nesta transformação. Já não estamos a falar de ferramentas futuristas, mas de capacidades acessíveis que, quando bem implementadas, aumentam drasticamente a velocidade e precisão da resposta. Um cenário que outrora exigia horas ou até dias para ser compreendido e mitigado pode agora ser resolvido em minutos. As tecnologias de deteção assistida por IA, por exemplo, não só filtram os alertas irrelevantes, como ajudam a construir narrativas completas sobre a origem, impacto e propagação de uma ameaça. Estas funcionalidades libertam os analistas de tarefas repetitivas e dão-lhes o espaço necessário para atuar de forma estratégica, reduzindo drasticamente o tempo médio de deteção e de resposta.

Mas a consolidação não se esgota na tecnologia. Implica também uma revisão das práticas operacionais e das estratégias de preparação. Planos de resposta a incidentes, simulações de ataque e avaliações regulares da maturidade da equipa são componentes essenciais para garantir que, quando uma ameaça se materializa, existe um guião claro, ensaiado e eficaz. A preparação não pode ser apenas documental – tem de ser vivida, interiorizada e constantemente atualizada.

Num ambiente regulatório cada vez mais exigente, como aquele que a Europa vive com diretivas como o DORA e a NIS2, a consolidação assume também uma função crítica de alinhamento com as exigências de conformidade. Estas regulamentações impõem padrões mínimos de ciberresiliência, obrigando as organizações a garantir não só a proteção dos seus próprios sistemas, mas também dos seus ecossistemas de terceiros. A complexidade de garantir essa conformidade com soluções dispersas e desconectadas é impraticável. Uma abordagem consolidada, por outro lado, permite um controlo centralizado, maior visibilidade e rastreabilidade das ações, e uma capacidade de resposta alinhada com os requisitos legais.

A consolidação não é, portanto, uma escolha técnica ou meramente orçamental. É uma decisão estratégica, que redefine a forma como as organizações se protegem, como comunicam internamente e com os seus stakeholders, e como se preparam para o futuro. Num cenário de ameaças cada vez mais sofisticadas, imprevisíveis e rápidas, não é possível continuar a depender de modelos fragmentados. O que está em causa não é apenas a integridade de sistemas informáticos, mas a continuidade do negócio, a confiança dos clientes e a reputação institucional.

É tempo de reconhecer que segurança não é somar ferramentas, é integrar capacidades. Não é responder mais, é responder melhor. E para isso, é preciso consolidar.


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