Opinion

Contas privilegiadas: um pilar essencial da segurança empresarial

Num cenário digital cada vez mais complexo, a proteção das contas privilegiadas tornou-se uma prioridade estratégica para qualquer organização. Estas contas, que permitem acesso a sistemas e dados críticos, representam simultaneamente um ativo essencial e um dos maiores riscos de segurança

Por João Paiva, Project Manager em Cibersegurança, na Minsait em Portugal (Indra Group) . 26/09/2025

Contas privilegiadas: um pilar essencial da segurança empresarial

As contas privilegiadas são utilizadas por administradores de sistemas, equipas técnicas e outros perfis com permissões elevadas. Têm capacidade para alterar configurações de sistemas, aceder a dados sensíveis, instalar ou remover software e gerir utilizadores e permissões. Devido ao seu elevado nível de acesso, são frequentemente o alvo principal de ciberataques. De acordo com a IDSA (Identity Defined Security Alliance) um terço dos ataques ocorridos nos últimos anos envolveram o compromisso de contas privilegiadas. O roubo destas credenciais pode comprometer toda a infraestrutura de uma organização, traduzindo-se em perdas financeiras, danos reputacionais e violações legais.

A questão que se coloca agora é a de como mitigar os riscos associados a estas contas? Existem soluções de Gestão de Acessos Privilegiados (PAM – Priveleged Access Managment), que permitem controlar, auditar e proteger o uso de contas com permissões elevadas. Estas soluções incluem cofres digitais para armazenamento seguro de credenciais, monitorização e gravação de sessões privilegiadas, rotação automática de passwords e análise de risco comportamental para deteção de acessos anómalos. A sua implementação reduz significativamente a superfície de ataque e aumenta a visibilidade sobre ações críticas.

A abordagem Zero Trust, cada vez mais adotada pelas organizações modernas, complementa as estratégias de PAM. Este modelo assenta no princípio de que nenhum utilizador ou sistema deve ser automaticamente confiado, mesmo dentro da rede corporativa. O acesso é concedido com base em múltiplos fatores (como identidade, contexto, localização e dispositivo) e apenas pelo tempo estritamente necessário. Neste contexto, o PAM assume um papel fundamental, assegurando que os acessos privilegiados seguem os mesmos princípios de verificação contínua e limitação mínima de privilégios.

Em Portugal, o Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS) tem um papel ativo na sensibilização para a cibersegurança, emitindo recomendações sobre a gestão de contas privilegiadas. Através de orientações técnicas e do Quadro Nacional de Referência para a Cibersegurança, o CNCS incentiva a adoção de boas práticas e a implementação de controlos técnicos que garantam a segurança dos acessos críticos.

A má gestão de contas privilegiadas pode levar ao incumprimento de várias normas legais. O regulamento NIS2 exige medidas de segurança robustas para operadores de serviços essenciais, enquanto o regulamento DORA impõe requisitos de resiliência digital no setor financeiro. Por sua vez, o RGPD obriga à proteção de dados pessoais, sendo o acesso indevido uma violação grave. A ausência de controlos adequados pode resultar em sanções legais e perda de confiança por parte de clientes e parceiros. Em alguns casos, como no da NIS2, poderá também haver responsabilidade criminal por parte de funcionários com cargos mais elevados.

Casos recentes demonstram como o roubo de credenciais privilegiadas continua a ser um vetor de ataque eficaz. Em muitos incidentes, os atacantes exploraram falhas humanas ou técnicas para obter acesso a contas administrativas, comprometendo sistemas inteiros e expondo dados sensíveis. Segundo relatórios internacionais, mais de 20% dos incidentes de segurança têm origem no abuso de credenciais, um número que reforça a urgência de implementar medidas de proteção eficazes.

A adoção de uma estratégia PAM deve incluir o inventário e classificação de contas privilegiadas, a utilização de cofres de credenciais com autenticação multifator, a monitorização contínua e auditoria de sessões, a revisão periódica de privilégios e a integração com sistemas de deteção e resposta a incidentes. Estas práticas permitem não só proteger os sistemas, mas também garantir a conformidade com os regulamentos em vigor.

Os benefícios de um programa PAM são claros. A sua implementação contribui para a redução do risco de ataques internos e externos, aumenta a confiança em auditorias e processos de compliance, melhora a eficiência operacional e protege a reputação da organização perante clientes e stakeholders.

A gestão de acessos privilegiados não é apenas uma questão técnica — é uma responsabilidade estratégica. As organizações portuguesas devem encarar esta temática com seriedade, adotando soluções e práticas que garantam a segurança, a conformidade e a resiliência digital.


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