Opinion

Segurança nos pagamentos online: uma lição da Europa para o mundo

Não foi um começo fácil. Na verdade, a introdução obrigatória do protocolo de segurança 3D Secure na Europa – no âmbito da diretiva PSD2 – teve um início atribulado e confuso

Por Sebastião Lancastre, CEO da Easypay . 05/07/2022

Segurança nos pagamentos online: uma lição da Europa para o mundo

O tema não foi devidamente explicado e suscitou, na altura, muitas dúvidas junto dos consumidores. Contudo, contrariando o ceticismo inicial e a ideia de que “o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita”, a realidade mostra-nos que esta foi a decisão certa.

Os primeiros dados relativos à implementação deste sistema de autenticação forte – que visa reforçar a segurança dos pagamentos eletrónicos e proteger os cidadãos – indicam que a solução é eficaz, contribui para a redução de fraude e tem potencial para ser uma ideia “made in Europe” exportada para o mundo inteiro.

Implementada com um ano de atraso – uma vez que o prazo estipulado inicialmente pelas autoridades mostrou-se insuficiente para a indústria se adaptar e atualizar os seus sistemas – a solução 3D Secure já está a ter efeitos práticos. Dados apresentados pela MP Services durante a última edição do “ePayaments Day Portugal” revelam que nos primeiros quatros meses de 2022, as fraudes com pagamentos online feitos com cartões na Europa desceram para os 0,15%, quando no mesmo período de 2020 se situavam nos 0,89%. Trata-se de um feito notável, tendo em conta o reduzido período de aplicação deste sistema.

Numa altura em que o comércio eletrónico continua a ganhar terreno e as fraudes e ataques cibernéticos são cada vez mais frequentes e sofisticados, a Europa toma a liderança na implementação de medidas efetivas que visam garantir a segurança das transações e a preservar aquele que é o valor mais importante para o sistema financeiro e para o saudável funcionamento de uma economia: a confiança. Sem ela não há evolução. Sem ela o sistema colapsa.

Só entre 2019 e 2021, os ataques de fraude online aumentaram 233% em termos globais, segundo apontam alguns estudos. O grande desafio que as empresas, o sistema financeiro e as autoridades competentes têm nas suas mãos é encontrar soluções que permitam fortalecer a confiança digital, mitigando os riscos associados ao desenvolvimento de novas soluções de pagamento. A disrupção que estas novas soluções de pagamento trazem ao sistema tem de ser necessariamente acompanhada por uma inovação dos protocolos e mecanismos de segurança.

É certo que o sistema 3D Secure – ou melhor, 3DS 2.0 – não resolve, por si só, todos os problemas. Mas é um passo gigantesco na direção certa e que nos deve orgulhar a todos enquanto europeus. Hoje, em toda a Europa, os bancos e prestadores de serviços de pagamento têm de aplicar os requisitos de autenticação forte nas operações de pagamento online com cartões. Esse processo passa por solicitar ao utilizador dois fatores de autenticação que poderão ser: algo que o consumidor tenha (ex: um telemóvel), algo que ele conheça (Ex: pin ou palavra-passe) ou algo que ele é (ex: dados biométricos). Desta forma, consegue-se garantir que quem faz um pagamento online é o legítimo titular do cartão, reduzindo-se as situações de fraude e de utilização indevida.

E embora o sistema 3DS 2.0 não seja perfeito é uma medida transformadora e, não tenho dúvidas, deverá ser expandida para outros mercados. No entanto, é ainda necessário encontrar soluções que permitam incluir no sistema os consumidores que querem fazer compras online mas não têm um smartphone.

Hoje, tal como há 30 anos, a Europa volta a tomar a dianteira no que diz respeito à inovação e criação de mecanismos de segurança associados às transações. Se recuarmos no tempo, foram os franceses que implementaram na década de 90 a tecnologia chip card nos cartões bancários. Mas seriam necessários 20 anos para que os benefícios desta solução fossem devidamente compreendidos e a adoção do chip card se tornasse incontornável no mundo inteiro.

Três décadas depois, a Europa volta a dar uma lição ao mundo no que diz respeito à segurança das transações e à proteção dos seus cidadãos, e mostra que apesar da resistência inicial e das dificuldades inerentes ao processo de desenvolvimento e implementação de soluções inovadoras, vale a pena não desistir. O tempo, mais cedo ou mais tarde, nos dará a razão.

Sebastião Lancastre

CEO da Easypay


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