Compliance
A Alemanha aprovou nova legislação que reforça de forma significativa os poderes do Estado para limitar fornecedores chineses em infraestruturas estratégicas
17/11/2025
O Bundestag aprovou na passada semana a nova versão da legislação de segurança das redes (NIS2-D), que reforça de forma substancial os poderes do Estado para intervir em tecnologias consideradas de risco. O país passa a ter instrumentos mais claros para restringir fornecedores chineses em infraestruturas essenciais, não só nas telecomunicações mas também na energia, transportes, saúde, cloud pública, data centers, administração pública e sistemas industriais. A votação decorreu num contexto político marcado por uma posição cada vez mais firme do governo alemão. Numa conferência empresarial em Berlim, o chanceler Friedrich Merz afirmou: “Não permitirei quaisquer componentes da China na rede 6G.” A declaração surge dias antes de um encontro de alto nível sobre soberania digital, coorganizado pela Alemanha e pela França, onde Berlim pretende defender uma linha europeia mais coordenada em matéria de dependências tecnológicas. Evitar repetir o erro no 6GA Alemanha quer evitar a experiência do 5G, em que as regras chegaram tarde e permitiram que fornecedores chineses ganhassem presença relevante antes de existir uma avaliação de risco sólida. Quando os alertas começaram a subir de tom, a infraestrutura já estava demasiado dependente e a substituição tornou-se complexa e dispendiosa e em muitos paises apenas parcial. Auditorias reforçadas e decisões mais rápidasA nova lei dá ao Ministério do Interior poderes mais amplos para analisar hardware e software utilizados em sectores críticos. Passa também a poder exigir a remoção rápida de componentes considerados inseguros e impor obrigações técnicas mais exigentes a operadores de infraestruturas essenciais. O Bundestag sublinha que o objetivo é permitir uma resposta mais ágil a ameaças emergentes, evitando longos processos administrativos como os que marcaram decisões anteriores. Impacto em múltiplos setoresA lista de entidades abrangidas alarga-se de forma significativa. Operadores de energia, empresas de transporte, hospitais, organismos públicos, operadores cloud, data centers e fabricantes industriais passam a estar sujeitos aos novos critérios de segurança. A legislação afeta não apenas redes móveis, mas também routers industriais, sistemas de controlo, videovigilância, componentes IoT e plataformas cloud usadas em operações críticas. A dimensão europeia: Berlim quer coordenar respostasO endurecimento das regras surge num momento em que a discussão sobre dependências tecnológicas está a subir de nível na União Europeia. Ao levar o tema para o encontro de soberania digital com França, Berlim quer influenciar uma abordagem mais harmonizada no espaço comunitário. O objetivo é reduzir a fragmentação regulatória e criar critérios comuns para fornecedores de infraestruturas sensíveis, uma área onde a Alemanha, pela sua dimensão económica, tende a definir ritmo. |