Compliance

O risco iminente da desigualdade digital e das falhas de cibersegurança

Os riscos tecnológicos integram a 17.ª edição do Global Risks Report entre os principais riscos de curto a médio prazo e, em Portugal, a desigualdade digital é percecionada como um dos maiores riscos

Por Maria Beatriz Fernandes . 02/03/2022

O risco iminente da desigualdade digital e das falhas de cibersegurança

A ideia de risco, frequentemente associada ao perigo, é pautada pela incerteza dos efeitos e pelas consequências em relação a algo de valor, particularmente focado num impacto negativo ou indesejável, com possíveis danos irreparáveis. Através da avaliação das perceções de risco, o mais recente Global Risks Report 2022 apresenta a visão de especialistas na identificação dos principais riscos globais a curto (dois anos), médio (dois a cinco anos) e longo prazo (cinco a dez anos) e o Top 10 de riscos globais por severidade para os próximos dez anos.

Preparado para o Fórum Económico Mundial pela Marsh McLennan e pela Zurich, o relatório apresenta os resultados da última edição do Global Perception Survey. Desta vez, na 17.ª edição, os principais riscos a longo prazo apontados são a crise climática; o crescimento das divergências sociais; o aumento dos riscos cibernéticos e uma recuperação mundial desigual, à medida que a pandemia se prolonga.

No caso português, os riscos refletem problemas estruturais (em grande parte de natureza económica) e recorrentes – a estagnação económica prolongada; crises de dívida em grandes economias; crise de emprego e de subsistência; desigualdade digital; e, finalmente, colapso ou falha dos sistemas de segurança social.

Riscos tecnológicos

Segundo Fernando Chaves, Risk Specialist da Marsh Portugal, os riscos tecnológicos já estão nas preocupações do Global Risks Report há alguns anos – naquilo que eram os riscos em termos de probabilidade. Este ano, o relatório não tem o mesmo modelo de avaliação, mas em anos passados, “os riscos tecnológicos – nomeadamente riscos de ciberataques e de roubo e fraude de dados – ocupavam posições nos cinco primeiros lugares”, juntamente com riscos de natureza ambiental.

O Risk Specialist da Marsh Portugal nota que “é importante perceber que por detrás das perceções, também há o risco de as perceções não estarem corretas”, podendo “levar a outros riscos”. Os riscos tecnológicos são apresentados no relatório enquanto ameaças críticas de curto e médio prazo no mundo, mas caem nas classificações de longo prazo e nenhum aparece entre os potencialmente mais graves. A questão poderá estar relacionada com a crença de que a própria tecnologia vai encontrar solução para combater de forma mais rápida as vulnerabilidades dos sistemas, explica Fernando Chaves, “logo, estes riscos são percebidos como podendo vir a ser minimizados e mitigados pela própria evolução tecnológica”.

Os riscos interligam-se: “não podemos dissociar uns riscos de outros”, refere Fernando Chaves, e “em 2021 começou-se a sentir a força dos riscos de natureza social, especialmente a importância que têm para outros riscos, como para os riscos tecnológicos”, explica. No caso da tecnologia, que é “transversal a todas as indústrias”, os riscos associados vão, muito provavelmente, impactar ou associar-se a outros riscos.

A afirmação dos riscos tecnológicos no relatório de 2022 reflete a realidade do que aconteceu nos últimos dois anos, explica o Risk Specialist – “passamos a falar pela janela virtual” e “as empresas tiveram que tomar decisões de mudanças estruturais que estavam nas agendas”. Nesse sentido, “aquilo que era previsto implementar em meses ou anos, tivemos que implementar em dias, e, depois, andamos a apanhar os cacos e a tentar fechar as janelas que ficaram abertas no escritório quando fomos todos para casa: os cibercriminosos viram e puderam entrar”, reflete Fernando Chaves. A recuperação não vai ser radical e traduz-se num percurso exponencial, explica, e as organizações carecem de tecnologia de proteção e de pessoas especializadas para poderem dar resposta, acrescenta.

Ciclos de crise tecnológica - um processo evolutivo

Aqui, começa um capítulo de dificuldade futura, de acordo com Fernando Chaves: “a capacidade das universidades e dos centros de formação continuarem a produzir mão de obra suficiente para, no curto prazo, darem resposta à procura que, claramente, é muito superior à oferta. É um gap na ordem dos três milhões de profissionais a nível mundial – uma preocupação de médio e não de curto prazo, porque não se formam pessoas com essa rapidez”. Todavia, é de notar que o tempo de formação dos profissionais ou da adequação das competências ao constantemente mutável panorama tecnológico e de cibercrime, abre portas para os atacantes.

“Nesse sentido, não é de esperar que a elevada percentagem de ransomware baixe, pelo contrário. Vai continuar a existir e a crescer de uma forma muito superior àquilo que é a capacidade de resposta por parte das organizações”, assegura o Risk Specialist. A fragilidade em que se encontra o ciberespaço traduz-se no aumento de 435% do ransomware entre 2019 e 2020, risco apresentado no primeiro capítulo do Global Risks Report, que diz respeito aos riscos agravados pela COVID-19.

A passar por um período altamente disruptivo, “os países não responderam da mesma maneira ou com a mesma rapidez aos processos”, contribuindo para a inadequação digital, relacionada com um “aumento da competitividade a nível mundial”. No caso português, “perdemos um pouco o comboio” por não “termos conseguido, em 2021, suceder de forma correta e rápida ao leilão de 5G”.

Para Fernando Chaves, um dos maiores riscos atuais prende-se com essa velocidade – a velocidade a que “temos de apanhar o comboio para sermos mais competitivos”. “Para muitas gerações é um fator de pressão social brutal”, podendo criar um gap geracional – e tecnológico – e a desigualdade também aparece nesse nível. Mas é “um processo evolutivo: a tecnologia vai acabar por ter, um pouco como a economia, ciclos de crise, que tem a ver com a sua evolução e com a sua adaptação”, conclui.


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