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Será a informação a verdadeira rosa de Jericho

Será a informação a verdadeira rosa de Jericho

A expressão "informação é poder" eventualmente, nunca assumiu a plenitude do seu significado como atualmente. Factualmente, vivemos numa época inebriada pelo poder dos dados, da informação, mas também pejada de desinformação irritante. Todo o ecossistema ou constelação digital coabita (híper) conectado, diz-se! Mesmo que estejamos apenas no início de uma nova e diferente era, a "I3A - Information, Intelligence & Innovation Age"

A concetividade global empondera o mainstream, enformando-o do Poder que assegura a superioridades estratégica, competitiva e de influência, mas simultânea e principalmente, o Poder de comunicar, interagir, colaborar, partilhar, de feedback, de resistir e de se adaptar sustentadamente com base nessa informação. Note-se que se o Poder na primeira forma enunciada, pode ser delegável, dificilmente o será na segunda.

Na atual I3A, a informação habilita a liderança assertiva, se e só se, for coletada, processada, direcionada e acionada com agilidade e otimização. A informação como alavanca do conceito de “poder expandido” bem como a as decisões prospetivas, são uma necessidade premente para garantir a permanência das empresas no mundo VUCA1. A supremacia da informação por si só e ou em silos, não gera “poder” nem aporta valor, o que nos remete para a segunda forma de Poder, “comunicar, interagir, colaborar, partilhar, de dar feedback, de resistir e de se adaptar sustentadamente com base nessa informação”.

No ambiente global competitivo, veloz, incerto, complexo e ambíguo, vulgo VUCA, uma Gestão Estratégica da Informação (GEI) por parte das organizações, sobretudo as que atuam a um nível estratégico e competitivo é fundamental e pode mesmo ser crítica, na sua ausência ou insuficiência – para o seu posicionamento, capacidade e alcance da ação ou mesmo, no limite, para a sua sobrevivência.

A Gestão Estratégica da Informação (GEI), para se adaptar ao ambiente VUCA, vem aumentando, tanto as formas de realização quanto a abrangência de domínios onde atua, transpondo as fronteiras e evoluindo tanto no domínio militar como empresarial, em ambos os casos alavancada pela tecnologia, como comprovam as inúmeras iniciativas Dual Use², indispensáveis á vida quotidiana.

Com base neste contexto, o objetivo do modelo e framework MAITAI (Master Agile Intelligence To Actionable Information) é contribuir para acelerar a Gestão da Informação (GI) mesclando os conceitos de Inteligência Competitiva (CI), Sensor To Shooter (STS), com os elementos Triggers, Targets and Filters (TTF), ancorados em conceitos de três domínios diferentes, mas interligados: o Militar, o Tecnológico e a Gestão. O modelo MAITAI surge da constatação de que a conjugação de Triggers, Targets, Filters, com um sistema ágil para gerir informações de ponta-a-ponta (Sensor to Shooter-STS), uma área do conhecimento experimentada em competição empresarial e em gestão da informação, são componentes estruturantes de um qualquer processo atual de GEI com qualidade, eficiência e eficácia.

O mercado dito VUCA ou BANI³ na versão moderna premedita a subordinação da atividade das empresas ao dataísmo⁴, requisitando estratégias competitivas, ágeis, otimizadas e acionáveis, para que nele permanecerem ativas. As empresas, para alcançarem a Information Awareness, inevitavelmente adotarão centros C2, sejam estes, sofisticadas salas estanques ou simples dashboards exibidos num ecrã de computador, serão definitivamente um “must have”. Concomitantemente, a multiplicidade de sensores (fontes de dados), que proliferam em todas as áreas de atividade, impõe o desenvolvimento de modelos capazes de gerir estrategicamente a sobrecarga da informação que deles advém. Por exemplo, se observarmos que o transístor foi eventualmente a maior invenção do século XX, e que hoje operamos equipamentos digitais domésticos que incorporam milhões de transístores, é possível antever a avalanche disruptiva de sensores que crescentemente perpassará as nossas vidas, não será despiciente equacionar as capacidades que teremos de desenvolver para gerir toda a informação deles provenientes.

As tecnologias inteligentes são excelentes alavancas para a GEI. No entanto, ainda não atingiram a singularidade tecnológica, procedem, dependentes da execução de tarefas programadas pelo humano. A independência da IA não é o Desired End State, não é inevitável, nem o mais provável. O valor residirá na colaboração, muito bem abordada no artigo “The value of Colaboration” ou “Colaborative Intelligence” de (Wilson J. - HBR), também a abordagem da DARPA sobre a interação homem-máquina (human machine teaming) ajuda a estreitar a perceção sobre a evolução da Gestão Estratégica da Informação.

O modelo de gestão de informação competitiva - MAITAI

Para se ter uma noção mais concreta sobre o MAITAI, enquanto sistemas que captura, processa, entrega, ativa e retroalimenta informação, observemos um dos seus alicerces. O Sensor to Shooter, este ciclo na 1ª Guerra do Golfo demorava 72 horas, ou seja, desde a deteção do alvo até à sua neutralização. Na 2ª Guerra do Golfo, este ciclo reduziu-se para 12 minutos! Atualmente projeta-se que o ciclo se complete em menos de meio segundo, representando uma velocidade vertiginosa, desde a identificação das fontes de informação até a ativação da informação para a ação. Será expectável que uma empresa otimize a resposta a uma campanha de um concorrente para lançamento de um novo produto com a mesma agilidade?

O MAITAI nasce assim alicerçado pela observação da gestão da informação em contexto militar, e através de um cocktail de conceitos; Dominant Logic, OODA Loop, Open Innovation, Matriz de Einsenhower e ISO 27001, procura transpor este esteio para a prática na competição empresarial. Note-se que, a gestão da informação estratégica e tática, assume para os militares, (o) valor de um ativo que preserva vidas e vence batalhas. Se interpretarmos o mercado competitivo como um teatro de operações, verificamos semelhanças infindáveis, a diferença reside, que num compete-se por lucro económico e no outro por lucro social (territorial), contudo, como bem sabemos estes são conceitos dependentes, complementares ou até mesmo indissociáveis e sobrepostos, dependendo da perspetiva de análise. Tanto as moedas (lucro) como os m2 (território), são ativos, mais ou menos perpétuos, mas na realidade a vantagem competitiva na sua disputa, verte para aquele que com agilidade gere a sua intelligence para obter informação certa e acionável nos, momento certo, canal certo, formato certo para o utilizador certo. Elevando assim a informação ao estatuto de ativo mais valioso em qualquer organização, este facto remete para a metáfora: Is information the real rose of Jericho⁵.

O MATAI é um modelo holístico para GEI, desenvolvido para atingir três objetivos principais

  1. Otimizar e agilizar o processo de GI;
  2. Acelerar o processo de tomada de decisão;
  3. Otimizar recursos.

A operacionalização do MAITAI recorre a três elementos: os Triggers, Targets & Filters.

  • Targets (Alvos): São definidos como as fontes de informação.
  • Triggers (Gatilhos): São os elementos de uma organização que são ativados para recolher informação, podem ser, humanos (humint) ou tecnológicos (techint).
  • Filters (Filtros): Os filtros são os elementos usados para selecionar e refinar a informação, um pré-requisito para a qualidade da informação, são uma condição indiscutível nas interações da vida humana. Habilitam a informação com consistência e qualidade separando-a de resíduos e ruídos.

Sendo um ciclo contínuo e ininterrupto deve ser lido da esquerda para a direita, ou seja, representa a decomposição das Fases (Coletar, Processar, Direcionar, Acionar) em 13 funções que por sua vez se ativam através das 44 atividades, estas últimas representam a forma de como ativar cada uma das funções que concorrem para cumprir as fases principais do modelo.

O MAITAI propõe assim uma ação simbiótica entre ser humano, processos e tecnologias, de forma a agilizar ferramentas e técnicas de Inteligência e otimizar e agilizar a ativação da informação através da correta definição dos Requisitos Estratégicos de Informação (REI) em conformidade com os Requisitos Estratégicos do Negócio (REN). Esta fusão de conceitos é possível e recomendada quando integrada num modelo de GEI abrangente, mais direcionado, mas não exclusivamente, para a gestão da informação competitiva.

A Framework MAITAI representa a decomposição do modelo nas suas 4 Fases (Coletar, Processar, Dirigir, Acionar), 13 funções que por sua vez se ativam através das 44 atividades.

Para ser possível tirar o melhor partido do modelo MAITAI, é fundamental que exista uma liderança forte, determinada e eficaz, acompanhada por um modelo de Governo, numa lógica de Comando e Controlo (C2).

Com efeito, os sistemas C2 perpassarão todo o ambiente competitivo. Se as empresas, não assimilarem a necessidade premente de incorporar esta capacidade estratégica de abordar o mercado, poderão passar por dificuldades e algumas poderão mesmo não resistir e perecer. As empresas que rapidamente incorporarem ferramentas de GEI como o MAITAI que incorpora como centro de decisão dinâmico, ágil e otimizado, o C2, ficarão numa posição competitiva mais vantajosa, bonificarão dos privilégios de first mover, sendo que seguramente em termos de agilidade na tomada de decisões prospetivas, acelerarão a execução estratégica, com os respetivos ganhos de posicionamento estratégico face à concorrência.

As tecnologias são necessárias, mas não suficientes para a GEI

As tecnologias inteligentes são excelentes alavancas para a GEI. No entanto, ainda não atingiram a singularidade tecnológica, estando dependentes da execução de tarefas programadas pelo humano. Ou seja, pelo menos, por agora, a Gestão Estratégia da Informação continuará a caminhar apoiada na interação homem/máquina (HMT). Para terminar, fica uma evidência que, de tão evidente, pode passar entre “os pingos da chuva”: a supremacia da informação por si e em silos, não gera “poder” nem aporta valor.

Conclusão

Como podemos constatar numa simples busca, a Intelligence visita presentemente múltiplas formas de aplicação, sectores de atividade e áreas do saber. O mercado requisita crescentemente esta atividade pelas vantagens competitivas que lhe são caraterísticas. Se recuarmos 20 anos será possível perceber que a Inteligência Competitiva (IC) era ainda uma jovem atividade incipiente. Contudo, hoje afirma-se como uma indispensável alavanca operacional da gestão e está presente em todos os países, sectores de atividade e inclusive em muitas universidades e centros de conhecimento. Por conseguinte, garantidamente que todas as outras formas de Intelligence trilharão idêntico percurso, e todas elas cabem e convergem na denominada Gestão Estratégica da Informação a que o MAITAI pretende dar resposta.

O MAITAI foi apresentado pela primeira vez, na conferência internacional do Institute of Competitive Intelligence da Alemanha. Desta interação nasceu também a Conferência PI (Power of Intelligence), a qual, se teve a primeira edição em 2021 e acontecerá este ano nos dias 30 de novembro, 7 e 14 de dezembro. A Conferência PI, é exclusivamente em português, destinada aos países da CPLP e integrando oradores destes países, promove através de três eixos estratégicos (social, económico e tecnológico), 14 temas em 14 painéis, todos dedicados ás diferentes formas da Intelligence.

Este interesse crescente pela temática da Intelligence levou-nos a pensar e desenhar alguns cursos relacionados com o tema, os quais contamos poder anunciar no decorrer da conferência PI.

Convidam-se assim, todos os leitores da IT Insights a juntarem-se a nós na conferência PI, que conta com a CIIWA como parceira e coorganizadora e que pretende superar as 80 mil interações da primeira edição. Inscreva-se no nosso site www.conferenciapi.pt que em breve estará atualizado com os temas e oradores deste ano.

 

¹ Do inglês; volatility, uncertainty, complexity e ambiguity — volátil, incerto, ambíguo e complexo

² Duplo Uso; (e.g. Internet, computador, GPS, airbag, SIRI, satélites, telemóveis, etc…)

³ Do inglês; Brittle, Anxious, Nonlinear and Incomprehensible — Frágil, Ansioso, Não linear e Incompreensível

⁴ ver Huval Harari

⁵ https://www.youtube.com/watch?v=N1Rh3XTLkLM

Rui Metelo Marques

Rui Metelo Marques

Sargento-Chefe
Administração Militar

Sargento-Chefe de Administração Militar, Fundador da Conferência PI e dos Programa PROMBA e PROMBO

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