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A inteligência artificial (IA) deixou de ser promessa para se tornar uma força transformadora na cibersegurança. O paradoxo é claro: a mesma tecnologia que protege sistemas é usada por cibercriminosos para criar ataques sofisticados, adaptáveis e difíceis de detetar.
Por Ana Gouveia, Diretora de Sistemas de Gestão e Cibersegurança da IP Telecom . 07/10/2025
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A questão já não é “se” devemos usar IA na defesa, mas “como” aplicá-la de forma estratégica e responsável. Do risco ao investimentoO ponto de partida é simples: só é possível investir bem quando se conhecem os riscos. Identificar vulnerabilidades, mapear ameaças e priorizar ativos críticos é essencial para aplicar a IA onde gera maior valor. Não basta adotar tecnologia avançada, é preciso usá-la com propósito. A proteção eficaz nasce do equilíbrio entre processos claros, pessoas capacitadas e tecnologia adequada. A IA acrescenta valor integrada num ecossistema robusto, isolada é apenas mais uma peça do arsenal. Défice de competênciasUm dos riscos mais críticos é o défice global de competências em cibersegurança. Sem equipas preparadas, mesmo as melhores soluções tecnológicas tornam-se ineficazes. A formação contínua, especialmente no uso de IA para defesa, é tão vital quanto firewalls ou sistemas de deteção avançada. Se os atacantes já exploram IA, não investir em tecnologia e capacitação é “correr atrás do prejuízo”. Impacto dos ataquesAs consequências de ataques potenciados por IA podem ser devastadoras. Em infraestruturas críticas, há risco de interrupção de serviços essenciais, manipulação de dados sensíveis e até ameaças físicas à população. No sector corporativo, podem traduzir-se em perdas financeiras, danos reputacionais e fuga de propriedade intelectual. Estratégias de defesaAs defesas precisam ser tão inteligentes quanto os atacantes, combinando deteção comportamental, análise preditiva e resposta automatizada. Práticas como segmentação de redes, redundância de sistemas e simulações de ataques aumentam a resiliência organizacional, enquanto a colaboração entre setores público e privado acelera a partilha de inteligência e a resposta coordenada a ameaças emergentes. Adaptar-se rapidamente deixou de ser uma vantagem competitiva para se tornar uma exigência estratégica. As organizações que resistem a incorporar IA tornam-se vulneráveis a ataques automatizados e em constante evolução. Estratégias como Zero Trust, baseadas em “nunca confiar, verificar sempre”, reduzem a superfície de ataque e dificultam o movimento lateral dos invasores. Ainda assim, permanece uma questão crítica: estarão as práticas atuais preparadas para enfrentar algoritmos que aprendem e exploram vulnerabilidades em tempo real? A rapidez com que a IA evolui pode ultrapassar os métodos tradicionais de defesa, exigindo não apenas novas ferramentas, mas uma filosofia de defesa mais dinâmica, colaborativa e orientada para cenários futuros, até os que ainda não conseguimos imaginar. Riscos da IAApesar das vantagens, a IA traz diversos riscos que não podem ser ignorados. Entre estes, destaca-se o viés algorítmico, que ocorre quando modelos são treinados com dados incompletos ou tendenciosos, levando a decisões incorretas, desde classificar falsamente um comportamento legítimo até falhar na deteção de um ataque real, Outro risco relevante é a dependência excessiva da IA. As organizações que delegam demasiadas funções críticas a sistemas automatizados podem perder a capacidade de resposta manual e de análise crítica. Se a IA falhar ou for manipulada, a ausência de competências humanas preparadas para intervir pode aumentar os danos do ataque. O Futuro da segurançaA era dos cibertaques potenciados por IA já é realidade. A questão não é mais “se” vai acontecer, mas “quando” e “como” cada organização vai responder. Unir inteligência artificial e humana é o único caminho para manter as portas digitais seguras num mundo onde as máquinas já aprenderam a atacar e não vão desaprender. O futuro da segurança não será construído apenas por máquinas, mas pela colaboração, adaptação e, sobretudo, pelo fator humano.
Conteúdo co-produzido pela MediaNext e pela IP Telecom |