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As letras miudinhas: como a Google a outros nos vigiam através das apps

Chamaram-lhes etiquetas nutricionais, como as que podemos encontrar nos pacotes de produtos alimentares. E, tal como em tais etiquetas, também nestas conseguimos perceber quais são os componentes que fazem bem ou menos bem, quais são os “alimentos” que se podem usar com confiança ou, pelo contrário, afastar por inteiro. Igualmente, é fundamental que, em ambos os casos, os fornecedores sejam capazes de sinalizar com a maior transparência os seus produtos

Por Henrique Carreiro . 28/06/2021

As letras miudinhas: como a Google a outros nos vigiam através das apps

Estas etiquetas ditas nutricionais lançou-as a Apple no final do ano passado, na sua loja de aplicações, a App Store, para permitir aos utilizadores finais serem informados sobre os serviços do telefone a que as Apps têm acesso, de forma que os utilizadores tenham maior controlo sobre a respetiva privacidade. Três meses passaram antes que a Google, sob pressão, revelasse os serviços a que acede por via da App do Gmail. E o retrato é complexo. A App do Gmail pretende ter acesso a dados de uso, compras e localização, entre outros em que um utilizador se pode, legitimamente, perguntar, para que são necessários numa aplicação de correio eletrónico. A App do Outlook não precisa do acesso ao histórico das compras, mas não é extraordinariamente diferente. E indica, explicitamente, que os dados de uso podem ser usados para seguir o utilizador através das Apps que usa e sítios detidos por outras empresas.

O que parece evidente é que sendo eles próprios fornecedores de plataformas, quer a Google quer a Microsoft procuram obter, usando a plataforma da Apple, dados de âmbito semelhante ao que recolhem nas suas. Ainda assim, a Microsoft afirma não ligar os dados de localização ao nome do utilizador, embora os recolha. A Google não faz tal ressalva. Dada a prevalência do Gmail, com cerca de 1,5 milhares de milhão de utilizadores, versus 400 milhões para o Outlook, percebe-se, ou pelo menos intui-se, a quantidade de dados recolhidos pela Google, que são, na verdade, o seu principal ativo comercial.

A defesa da privacidade será um dos maiores campos de batalha nas plataformas, já que a Apple, que não depende da venda de informação pessoal como a Google, tem vindo a procurar aumentar a transparência de todo o processo de recolha de dados pelas Apps e a restringir o seguimento do utilizador enquanto ele se movimenta por diferentes sítios da Internet. Ou, dito de melhor forma, a dar ao utilizador a possibilidade de escolher como deve ser seguido.

A Google tenderá sempre a ser mais permissiva nesse aspeto, já que o seu negócio depende de entregar aos anunciantes os meios para estes fazerem publicidade dirigida. Ainda assim, é evidente que com consumidores mais despertos para esta realidade, a Google terá que ir introduzindo nas suas plataformas alterações que respondam aos anseios de maior controlo sobre informação pessoal que é acedida pelas Apps, especialmente no Android que durante anos foi particularmente liberal com as suas permissões.

Na versão mais recente do Android, a versão 12, que entrou em fase de testes beta em maio, a Google introduz capacidades melhoradas de proteção de privacidade como o acesso à localização aproximada em vez da localização exata. Uma App que indique o estado do tempo não tem de ter acesso à rua e porta do utilizador. Basta-lhe, certamente, a cidade ou a região. Entre as restantes alterações está um novo Painel de Privacidade que a Google diz que “oferece uma visão única das permissões do utilizador, indicando ainda os dados que estão a ser acedidos, com que frequência e por que aplicações. Também lhe permite revogar facilmente as permissões das aplicações a partir do painel de controlo”. No Painel de Privacidade, o utilizador poderá ver que aplicações acederam à sua localização, câmara, microfone e outras permissões, incluindo contactos, media, outros sensores, e por quanto tempo foi feito o acesso. Mas a Google continua a não ser clara e transparente, mesmo nesta nova versão do Android, quanto ao seguimento que as aplicações fazem aos utilizadores de sítio para sítio da Internet. A privacidade ainda é, de certa forma, um jogo de escondidas: ganha, infelizmente, quem melhor consegue esconder o jogo.


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